Os escape games (ou jogos de escape, em
tradução livre) estão ganhando cada vez mais destaque entre atividades de
entretenimento e com fins corporativos. A modalidade surgiu na Ásia, há mais de
10 anos, e é inspirada nos jogos de point and click, já famosos na internet. O
sucesso foi tão grande que levou os desafios para outros continentes, se
alastrando principalmente pela Europa e América do Norte. Nesses games, um
grupo de pessoas fica preso em uma sala e precisa decifrar enigmas, através de
dicas e objetos, para conseguir sair antes que termine o prazo estipulado de 60
minutos.
A ambientação é algo essencial e a inspiração para a criação das
salas não tem fim. Filmes, seriados, novelas… Qualquer tema pode resultar em um
espaço diferente para os jogos. Os cenários são cuidadosamente planejados e
montados para oferecer uma experimentação singular, capaz de levar os
participantes para uma imersão real. “Constantemente conversamos com o público
em geral para identificar tendências e expectativas com temas, o que nos
permite sempre oferecer experiências únicas, desde que fundamos a empresa”,
explica o co-founder da Fugativa.
A forma como esses jogos são elaborados é diferente para cada
público. Se a finalidade é o entretenimento, são desenvolvidas atividades
envolventes, imersivas e lúdicas. O processo criativo é complexo, envolvendo
desde designers, montadores e puzzle makers, até arquitetos, decoradores e
programadores de software. “Desde sua concepção inicial, os escape games
corporativos exigem a participação de mentores, coaches, especialistas em
recursos humanos, psicólogos e especialistas em comunicação corporativa, além
dos profissionais já envolvidos na elaboração dos escape games de
entretenimento”, conta Passerini.
De acordo com o executivo, os jogos corporativos têm como objetivo
principal o engajamento, team building, a análise de perfil e o fortalecimento
das relações entre áreas. “Dessa forma, os enigmas propostos buscam mais esses
objetivos, onde a taxa de sucesso é mais alta em equipes que apresentam maior
entrosamento. Em geral, a taxa de sucesso dos escape games corporativos é
ligeiramente superior à dos escape games de entretenimento”, diz.
Apesar do conceito de permanecer trancado em uma sala, a segurança
é quesito principal para os jogos de escapada, desde o planejamento até a
escolha dos equipamentos utilizados. Além do monitoramento por câmeras e microfones,
há sempre um botão de emergência à disposição para que um ou mais participantes
possam deixar o lugar antes do tempo limite. “Tudo é minimamente pensado
e testado para evitar acidades. Em dois anos de operação, nunca tivemos
qualquer tipo de incidente”, afirma Claudio Santiago, diretor do Escape Time.
Ultrapassando as barreiras do entretenimento, os jogos de escapadas
servem de aliados para a área de Recursos Humanos. Realizado principalmente
como prêmio de campanhas de incentivo, o método é aplicado até mesmo na seleção
de candidatos. “Nós temos consultores especializados que irão analisar o
comportamento das pessoas dentro da sala e vão bater, digamos assim, com as
características necessárias para aquela determinada vaga a ser preenchida.
Depois sai um relatório para a empresa, apontando as nossas recomendações sobre
aquelas pessoas que estavam presentes na dinâmica. Esse trabalho pode ser feito
pelos nossos consultores, mas também pode ser feito pelo próprio RH da empresa”,
conta a sócia e diretora de marketing do Escape 60. Segundo ela, há ainda
análise de equipes, que funciona como ferramenta para melhorar as relações
profissionais.
Dentro do tempo estipulado, os
participantes precisam decifrar códigos e enigmas para conseguirem sair da
sala. Nesse processo, cada um demonstra suas competências individuais e em
equipe, que são pontuadas no relatório final – documento que serve como base
para projetos de desenvolvimento dos profissionais. O método contribui para
melhorar a integração, comunicação, trabalho em equipe e liderança dos grupos
envolvidos na atividade.
As possibilidades de aplicação desse exercício são infinitas. Além
do apoio aos processos de recrutamento e seleção, auxilia ainda nas etapas de
integração entre equipes e gestores, assim como em momentos de transição
interna. “Os escape games proporcionam grande entrosamento entre os
colaboradores, gestores e equipes que habitualmente trabalham com pouco
contato. Também proporciona forte engajamento das equipes com as empresas,
metas e objetivos apresentados, além de oferecer um ambiente muito rico para
análises, feedbacks participativos e metáforas de performance de mercado e
resultados”, diz Passerini.
Para a diretora do Escape 60, essa é uma experiência de imersão
completa, onde as pessoas não lembram que estão sendo observadas – permitindo
com que elas saiam da zona de conforto. “É uma atividade que você não usa o
computador, então é ela e ela mesma. E quando você observa essas pessoas lá
dentro, o benefício é enorme, porque você enxerga realmente como as pessoas são
e como elas interagem”, afirma.
Monica Orcioli, diretora geral da Swarovski, conta que percebeu uma
consciência muito grande do grupo de colaboradores que participou da atividade
na Escape 60. “A experiência que tivemos foi muito rica. Do mesmo jeito que
você está celebrando, divertindo em um jogo bem descontraído, é um momento em
que você fortalece laços entre as equipes. Depois, o time fez uma reflexão,
então eu acho que foi um exercício muito interessante. Algo diferente, que está
fora da literatura básica de motivação, conhecimento, network da equipe. Foi
enriquecedor”, afirma a executiva. Nesse caso, os escape games serviram de
comemoração pelo atingimento das metas de final do ano.
Apesar de ser idealizado em uma sala, os escape games não estão
condicionados a elas. Com o aumento da procura e demandas diferenciadas, os
modelos sofreram adaptações. Hoje, os jogos podem ser instalados em espaços
definidos, ou simplesmente transportados até algum lugar. “Temos diversas
formas de levar o escape até algum evento ou empresa. Nós temos um ônibus que
pode ser levado para onde a gente quiser. Ele tem um jogo dentro, uma sala
dentro do ônibus para até 10 pessoas. E dispomos também de atividades em
plenária, então já realizamos atividades para grupos de mil pessoas, jogando
juntas em uma mesma sala. Temos ainda atividades que levamos para hotéis, onde
utilizamos um quarto como cenário para fazer uma sala de escape. O céu é o limite”,
diz a sócia do Escape 60.
As possibilidades de utilização dos escape games são as mais
variadas e podem servir de apoio para o lançamento de produtos em feiras e
eventos (inclusive congressos corporativos), criando experiência de marca, por
exemplo. Nesse meio, a tecnologia é uma tendência e forte aliada para os jogos,
como confirma Passerini. “Desenvolvemos uma tecnologia própria para implantar
estas dinâmicas virtualmente em qualquer local, desde auditórios, quartos de
hotel e salas de reunião, até institutos de pesquisa, centros de eventos e ao
ar livre”, explica.
Para o co-founder da Fugativa, o horizonte para essa modalidade de
jogos deve apresentar crescimento. “Acreditamos que o cenário para o futuro é
de maior oferta de escape games ainda mais imersivos, com alto padrão de
desafios e enigmas, uso crescente de tecnologia e enredos mais elaborados,
tanto para entretenimento como para corporativo”, prevê Passerini.
No último ano, a Escape Time apresentou
crescimento expressivo, resultado da demanda de mercado que deve continuar a se
proliferar pelo Brasil – a empresa recebe de duas a cinco solicitações de
cotação por dia. Há pouco mais de dois anos, de acordo com Santiago, os escape
games têm crescido acima de dois dígitos. “Crescemos mais de 200% de 2016 para
2017”, afirma.
“O futuro para nós é inovação, sempre. Temos desde salas com VR
[óculos de realidade virtual], até passagens secretas que surpreendem os
participantes, por exemplo. Então a gente enxerga que o futuro é sempre
inovar”, diz Jeannette. Sobre o faturamento corporativo, a sócia e diretora de
marketing da Escape 60 conta que a empresa começou em 10%. Hoje, esse valor já
está em 30%. “Acredito que apresentaremos um comportamento de aumento de até
50% do nosso público”, finaliza.
A taxa de sucesso para completar um escape game é alta para as
equipes com maior entrosamento, sendo ligeiramente superior nos desafios
corporativos quando comparados aos jogos de entretenimento. Dicas podem ser
oferecidas durante a atividade como um auxílio externo, mas os jogadores
conseguem pedir ajuda se o processo travar em algum momento. Ainda assim, se um
grupo não conseguir sair da sala ao término dos 60 minutos, um monitor esclarece
o mistério e possíveis dúvidas dos participantes.